Transcrevo na íntegra o post da Palmira F. Silva, no Jugular. Sigam também os linques, para perceberem bem o assunto.
Este texto expressa muito daquilo em que eu acredito, dai achar oportuna a sua republicação aqui no meu canto
Uma das coisas que sempre me intrigou na maioria dos crentes é a a sua total insensibilidade em relação aos outros, quando esses outros não partilham as suas crenças. Essa insensibilidade, aliada a um sentimento de superioridade moral, traduz-se não só no que já discuti no «Divine Impulses», uma incapacidade em perceber os outros, como por vezes provoca atitudes desumanas em pessoas que de outro modo não as teriam.
Esse sentimento de superioridade moral impede-os de perceber que comportamentos «claramente imorais» para a sua religião - usar preservativo como forma de prevenção da SIDA ou o controle da fertilidade, por exemplo -, não o são para mim nem para a esmagadora maioria das pessoas. Ou que outros comportamentos que as religiões afirmam imorais são na realidade amorais, isto é, a moral só começa quando os nossos comportamentos afectam outros agentes moralmente relevantes. Quando não interagimos com nenhum outro agente moral, nenhum dos nossos actos tem qualquer relevância moral.
Por outro lado, contrariamente ao que pensam os muitos que querem impor uma moral baseada na fé, a moral religiosa não é universal. Uma moral universal resulta directamente de princípios que todos aceitam, o que está muito longe de ser verdade em relação aos ditames, ou antes, bananas, de qualquer religião. Impor uma moral ou comportamentos religiosos é assim imoral, precisamente porque resultam directamente de crenças que nem todos partilham. E não, não estou a falar no assunto que inflama a blogosfera nacional, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas noutro que faz o mesmo na blogosfera cristã britânica.
O tema em apreço tem a ver exactamente com a insensibilidade em relação aos outros que referi, com a incapacidade de perceber que algo que para um crente é não só moral como mandatório fazer pode ser muito cruel para quem não se revê nas suas crenças. Neste caso, uma professora de um serviço que disponibiliza ensino a crianças demasiado doentes para irem à escola, clama ter sido «perseguida» devido à sua religião por ter sido aberto um inquérito à sua actuação depois de os pais de uma aluna se terem queixado às autoridades competentes.
Segundo as carpiduras da professora, ecoadas numa onda de vitimização ululante em inúmeros blogs e media tradicionais, foi suspensa (e não despedida como o coro de lamentações carpe) por ter partilhado a sua crença em milagres e num deus pessoal que salva os aflitos com a aluna de 14 anos com leucemia a quem supostamente deveria ensinar matemática.
De acordo com os pais, que aparentemente se maçaram de ser descritos como os maus da fita, Olive Jones, a professora de matemática em questão, mesmo depois de saber que o seu proselitismo era traumático para a aluna e mesmo depois de repetidos pedidos da família para deixar de pregar, insistia em evangelizar a adolescente, fosse para a «consolar» da morte de uma amiga - que estava num lugar «melhor - fosse para a convencer a rezar.
Há algum tempo, vi-me numa situação muito parecida com a de Paddy e Stephanie Lynch, embora no meu caso a minha filha estivesse num hospital público e fosse o capelão do hospital de Santa Maria quem, apesar dos meus repetidos e encarecidos pedidos para deixar de me melgar, me admoestava para rezar e me arrepender do «pecado» da falta de fé e me avisava dos castigos que essa falta de fé acarretaria para as minhas filhas. Percebo perfeitamente que a situação fosse insuportável para a família inglesa e que esta pedisse ao referido serviço para deixar de enviar a professora em questão a sua casa. Assim como percebo, quando recordo a incompreensão misturada com acusação estampadas no rosto daqueles a quem me queixei do comportamento do padre, as reacções que o pedido dos pais e a posterior suspensão da professora suscitaram entre os crentes. Mas quiçá fosse boa ideia todos aqueles que se queixam da perseguição do «politicamente correcto» que os impede de evangelizar não crentes em situações complicadas, pensassem na perseguição cerrada que fazem a esses não crentes e tentassem perceber o efeito que neles provocam. Se isso for de todo impossível, pelo menos seria importante que reflectissem nas palavras da responsável do serviço que suspendeu a professora:
«Para algumas pessoas de fé, a oração é parte integral do apoio que prestam a um indíviduo ou família. Mas para professores e tutores, cujo papel principal é fornecer apoio educacional, as mundivisões dos pais e estudantes envolvidos devem ser igualmente respeitadas. É aceitável oferecer orações mas não é aceitável impô-las contra a vontade da família».
O tema em apreço tem a ver exactamente com a insensibilidade em relação aos outros que referi, com a incapacidade de perceber que algo que para um crente é não só moral como mandatório fazer pode ser muito cruel para quem não se revê nas suas crenças. Neste caso, uma professora de um serviço que disponibiliza ensino a crianças demasiado doentes para irem à escola, clama ter sido «perseguida» devido à sua religião por ter sido aberto um inquérito à sua actuação depois de os pais de uma aluna se terem queixado às autoridades competentes.
Segundo as carpiduras da professora, ecoadas numa onda de vitimização ululante em inúmeros blogs e media tradicionais, foi suspensa (e não despedida como o coro de lamentações carpe) por ter partilhado a sua crença em milagres e num deus pessoal que salva os aflitos com a aluna de 14 anos com leucemia a quem supostamente deveria ensinar matemática.
De acordo com os pais, que aparentemente se maçaram de ser descritos como os maus da fita, Olive Jones, a professora de matemática em questão, mesmo depois de saber que o seu proselitismo era traumático para a aluna e mesmo depois de repetidos pedidos da família para deixar de pregar, insistia em evangelizar a adolescente, fosse para a «consolar» da morte de uma amiga - que estava num lugar «melhor - fosse para a convencer a rezar.
Há algum tempo, vi-me numa situação muito parecida com a de Paddy e Stephanie Lynch, embora no meu caso a minha filha estivesse num hospital público e fosse o capelão do hospital de Santa Maria quem, apesar dos meus repetidos e encarecidos pedidos para deixar de me melgar, me admoestava para rezar e me arrepender do «pecado» da falta de fé e me avisava dos castigos que essa falta de fé acarretaria para as minhas filhas. Percebo perfeitamente que a situação fosse insuportável para a família inglesa e que esta pedisse ao referido serviço para deixar de enviar a professora em questão a sua casa. Assim como percebo, quando recordo a incompreensão misturada com acusação estampadas no rosto daqueles a quem me queixei do comportamento do padre, as reacções que o pedido dos pais e a posterior suspensão da professora suscitaram entre os crentes. Mas quiçá fosse boa ideia todos aqueles que se queixam da perseguição do «politicamente correcto» que os impede de evangelizar não crentes em situações complicadas, pensassem na perseguição cerrada que fazem a esses não crentes e tentassem perceber o efeito que neles provocam. Se isso for de todo impossível, pelo menos seria importante que reflectissem nas palavras da responsável do serviço que suspendeu a professora:
«Para algumas pessoas de fé, a oração é parte integral do apoio que prestam a um indíviduo ou família. Mas para professores e tutores, cujo papel principal é fornecer apoio educacional, as mundivisões dos pais e estudantes envolvidos devem ser igualmente respeitadas. É aceitável oferecer orações mas não é aceitável impô-las contra a vontade da família».
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