Outro aspecto importante destes últimos anos e desta campanha é a demissão dos jornalistas por uma informação isenta e exigente. Os jornalistas transformaram-se em actores políticos partidários. A informação livre é um dos pilares do regime democrático. Esta informação é tendenciosa, superficial, incompetente, com falta de rigor e sem o mínimo interesse de ser imparcial. Haverá excepções, obviamente, mas o panorama geral é desolador.
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Tudo o que a Sofia diz pode ser aferido diariamente, e não só em período eleitoral, mas o problema não está na falta de isenção dos jornalistas – ao ponto de se poder pôr em causa a mera possibilidade real de uma informação livre. O que seria? Em que parte do mundo existe? A produção de informação é sempre uma actividade inerentemente política, axiológica, posto que selectiva e hierarquizante. O que nos falta é a exigência do público para que os órgãos de informação, e os jornalistas individualmente, assumam as suas preferências partidárias quando relatam acontecimentos políticos ou os criticam. Porque quem feio ama, bonito lhe parece. E vice-versa.
Os jornalistas são useiros e vezeiros nos ataques aos políticos. Tanto aqueles que elegem como ódios de estimação, como à classe, numa rivalidade corporativa despeitada nascida da intimidade, da copofonia, das histórias de alcova. Todavia, dos políticos podemos dizer que se sujeitam a uma tarefa bastante complexa, desgastante e arriscada. Arriscam passar por incompetentes, arriscam perder amigos e ganhar inimigos, arriscam serem ameaçados e devassados – para além de não se conceber como apetecível o dia-a-dia de um Sócrates ou de um Teixeira dos Santos, dá ideia de que são obrigados a passar o tempo de forma algo distinta daquela pela qual os paxás ganharam a sua fama. Que arriscam os jornalistas? E que oferecem à comunidade, para além dos seus egocêntricos estados de alma? Têm estado a educar o povo, mas andamos todos distraídos e não reparamos?
Nesta campanha, estar a ler e ouvir o comentário depreciativo dos jornalistas a respeito das vicissitudes deste e daquele político, a que se segue a inevitável acusação de faltar discussão disto ou daquilo, é um tormento. Os jornalistas-comentadores, obrigados a seguirem a actualidade hora a hora, esquecem-se do seu papel mediador, pedagógico, analítico, e assumem missões que não lhes foram – nem devem – ser confiadas. A sua proximidade com os objectos que supostamente assimilam não permite a convencida e vaidosa sentença que se arrogam estarem sempre capazes de oferecer à audiência. Acima e antes de tudo, ao se permitirem brincar aos juízes dos políticos, os jornalistas-comentadores entram na arena e passam a rivalizar com eles. Mas com uma disfuncional diferença: os jornalistas-comentadores não vão a votos, nunca perdem, não saem de cena. O resultado é maníaco, com a repetição dos mesmos clichés eleição após eleição, o que leva ao aumento do fosso entre a política e a sociedade, entre os partidos e os cidadãos. Sobre este distanciamento que ajudam a criar e a aumentar, borboleteiam como carpideiras que se extasiam eroticamente nessas dulcíssimas e lânguidas dores que lançam no éter em troca de modestas ou chorudas remunerações.
Quem são os grandes nomes do jornalismo contemporâneo? Onde estão as autoridades, os exemplos, as escolas? Alguém me pode ajudar? É que há muito mais mérito, e proveito, naquele que se candidata a uma junta de freguesia em Alguidares de Baixo, seja ele quem for e para o que for, do que no pimpão que interroga altivo e cínico o Primeiro-Ministro ou tecla displicentemente a respeito da enésima falha do líder da oposição.
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