Nem mais!

Texto roubado descaradamente e sem vergonha ao Aspirina B, onde um dos seus leitores faz uma análise política de uma clareza assombrosa.

No fundo, quer para a extrema-esquerda, quer para a direita que temos, trata-se de voltar a pôr as coisas nos eixos, cada macaco em seu galho. Ambas conviveram, e convivem, mal com o pós 25 de Abril.

A extrema-esquerda, falhado que foi o PREC, teve que tolerar a democracia, embora a contragosto, pois sempre soube que não era a votos que chegava ao poder. Na versão mais “moderna” transformou-se em organizações de protesto, onde tudo entrou, inimigos figadais da véspera, verdadeiros sacos de gatos sem vocação para poder. Para essa esquerda, convicta do quanto pior melhor, o centro-esquerda, representado em Portugal pelo PS é, naturalmente, o inimigo a abater, porque só perante um governo de direita, de preferência ditatorial, encontrará o terreno que lhe verdadeiramente é familiar para preparar a revolução, única forma que vislumbra para alcançar o poder. Diga-se que, neste aspecto, as notícias da Grécia agradarão porventura à extrema-esquerda, nomeadamente se se confirmar a lunática intenção de ser o trio FMI/BCE/Comissão a coordenar a cobrança de impostos e o programa de privatizações, com a consequente não descartável hipótese de uma intervenção militar, previsivelmente de direita.

Já para a direita portuguesa, o PS representa aquilo que ela sabe que foi a verdadeira conquista – e, até ver, o maior sucesso – do 25 de Abril e que visceralmente abomina: a possibilidade de, sem nacionalizações ou amanhãs cantantes, se criarem mecanismos, democráticos, sobretudo ao nível do ensino, de mobilidade social e de rotura com auto-atribuídos privilégios de classe. E mesmo se esses mecanismos são ainda incipientes em Portugal, o certo é que para a direita portuguesa, que na sua maioria, e tal como a extrema-esquerda, não se entusiasma com o regime democrático, a mera possibilidade de aqueles mecanismos serem aprofundados é manifestamente intolerável. A direita não tem ilusões: em democracia é, obviamente, do PS que vem o verdadeiro perigo de esvaziamento da cultura de privilégios que a direita portuguesa sempre assumiu. Daí o ódio.

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Oferta do nosso amigo José Pires


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