Agridoce

Recordações agridoces assaltam-me
Num assomo de nostalgia e alívio.
Recordações de um tempo ainda inocente.
De um tempo difuso, confuso e doloroso,
De descoberta do mundo a toda e volta.
Das emoções extremadas, alternadas.
Recordações de um tempo de ideais,
Do tempo em que mudámos o mundo,
Em que virámos tudo do avesso, em tumulto,
Num grito desesperado de angustia e raiva
De dor e frustração, de tudo e de nada.
Recordações enevoadas desse tempo
Em que vagueámos por aí, perdidos, audazes,
Ao sabor das marés dos sentidos e emoções
Tentando encontrar um farol que nos guiasse,
Tentando encontrar uma referência, um algo,
Que nos indicasse qual o caminho a seguir,
Qual o rumo certo a tomar sem sobressaltos.
O tempo passou e seguimos viagem
Apalpando terreno e escolhendo por onde ir.
Tantas vezes ao acaso, tantas vezes sabendo
Qual a vereda a tomar, seguros de nós.
No caminho perdemos a inocência
E o mundo ficou mais feio e sem magia.
E tornou-se nosso para o desfrutarmos,
Para chegarmos a algum lugar, um qualquer
Onde finalmente aportamos e reparamos
Os estragos da viagem feita até ali,
Nostálgicos do que ficou para trás
Preparando-nos para seguir continuando
A nossa viagem até ao fim, até um fim
Um qualquer que seja, quando for que seja.

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