Era noite de ante-véspera de S. João...

E nem um rato se ouviria... mas pelos vistos confirmou-se, ratos não foram ouvidos...

Primeiro, aí pela 22:30 chega ao parque infantil, vindos da parte de cima da urbanização, um grupo numeroso, penso que tudo família, carregado de criancinhas ululantes, bolas de futebol e adultos que me pareceram estar "com um grão na asa" (confesso que não sei se são lá moradores).

Prosseguem em grande alarido em brincadeiras aos berros e chutos nas bolas e argumentações ruidosas de que era falta; já eram quase meia-noite e não havia modo de aquela trupe ir embora ou pelo menos fazer pouco barulho.

Entretanto um vizinho providencial chamou a polícia e foi lindo o que se passou a seguir, com os adultos a berrar, coléricos, que aquilo é um espaço público e que têm o direito de fazer o que lhes apetece, a policia retorquindo no estilo "olhe que não, olhe que não, não pode fazer barulho, é uma zona residencial, é quase meia-noite, é a Lei...".

Um dos mais exaltados perguntou ao agente se sabia quem ele era, não o agente mas ele próprio, ao que o agente o informou da possibilidade de lhe dar ordem de detenção, presumo que para com mais calma proceder às inquirições necessárias para dar resposta ao confuso senhor - que padeceria de alzeimer para além de boçalidade.
Não foi necessário, a memória deve-lhe ter voltado subitamente, que essa doença tão grave da boçalidade prega destas partidas

A trupe debandou, alvoroçada e indignada, alameda acima, e regressou o sossego.

Estava eu no “primeiro sono”, ainda por cima especialmente reconfortante depois do episódio supracitado, e eis que toca um sonoro alarme, estridente e longo, não passaria das duas da manhã.
Tocou o sinal por longos e custosos minutos, incansável e imparável.
De súbito cala-se e ouvem-se vozes exaltadas, algo abafadas pelo isolamento sonoro das paredes e camufladas pelo trânsito que entretanto vai passando... presumo que fosse o proprietário do negócio protegido por tão intensa trombeta, a lembrar as do juízo final (se ainda não aconteceu como é que é possível lembrar-nos de tal?) e outros personagens de quem ignoro a identidade.

Ora regressado o sossego e retomado o sono, pela três e meia da manhã sou acordado com o alvoroço de 4 tiros, 4, e não de pequeno calibre, seguidos de sons de correria, impropérios sobre, presumo, a mãe dos visados pelo atirador. A acção demorou a boa metade de uma hora, não foram disparados mais projécteis mas o alarido era intenso e só esmoreceu com a chegada, novamente, da polícia, desta vez fazendo-se anunciar ao longe pelas sirenes – daí ter a certeza que foram tiros e que não sonhei, confirmado pela agitação que ia no prédio (há sempre valentes que vão às janelas espreitar a animação).

Enfim, animação pré-joanina...

2 comentários:

Gema disse...

Beeeem... onde é que moras??? Ou isso, não é usual acontecer?

Björn Pål disse...

Olá Gema!
Moro num subúrbio do Porto que até é bastante pacato, foi uma noite perfeitamente atípica, felizmente.
A parte das criancinhas ao berros e chutos nas bolas até bem tarde é relativamente normal, culpo os pais e a porcaria do parque infantil que não é vedado (é público). Mas em tão grande trupe como a de segunda, é mais raro e nunca a um dia de semana, talvez nos fins-de-semana mais quentes, (por aqui são poucos).

Já assim tiros e tal é a primeira vez que tal ouço acontecer por aqueles lados, o mais que houve por ali foi o desfecho de uma tentativa carjacking há dois anos que correu bem para o dono do carro, que já vinha do Porto com os meliantes atrás, mas é uma zona importante de ligação entre vários outros subúrbios populosos, passam muitos carros, mesmo à noite.