Sentiu o peso avassalador do cansaço que vinha sentindo há muito aliviar subitamente... o cansaço das lutas e das derrotas e das pequenas glórias fugazes. Levantou-se e dirigiu-se à sala do arquivo onde urinou para cima um monte de caixas poeirentas, encostadas por lá, a um canto. Um pequeno psicodrama, levado ali mesmo à cena, sem ensaios, definindo o desprezo que sentia pela sua própria história. Despiu o fato regimental e em conjunto com a gravata e mais os sapatos de executivo, ateou-lhes o fogo e saiu rindo às gargalhadas, maníacas para quase todos, libertadoras para os menos incautos. O incêndio foi breve e rapidamente controlado pela equipa de emergência, eficiente, que ele próprio ajudara a criar. À saída, deu as chaves do seu carro ao arrumador de serviço e mais a carteira com os documentos. Sentiu desconhecer o que sentia nesse momento, esquecido que estava do breve momento da sua infância em que não lhe foi dito para cumprir o destino não cumprido de seus pais. Sentiu-se leve, sentiu-se feliz e lembrou-se do dia da sua morte, o dia em que aceitou carregar o fardo de ser quem queriam que ele fosse.
Chegou a casa e escreveu uma carta onde contava da sua boa-nova, a sua ressurreição, à sua mulher-esposa, socialmente adequada e devidamente escolhida. Não que não gostasse dela... e de um certo modo até a amava. Mas nesse dia, de manhã, olhou para ela e viu-a morta enquanto tomava banho. Reconheceu depois, no cadáver sorridente e afável que lhe servia o pequeno-almoço, a sua própria morte. E foi nesse mesmo dia, ao chegar ao Escritório, que se resolveu ressuscitar. E decidiu dar-lhe a ela oportunidade de também o fazer. Mas resolveu que não continuaria morto se ela assim o decidisse permanecer. E assim foi, ela continuou morta e ele decidiu viver. Deixou tudo para trás, apenas levou alguma roupa e começou a caminhar para onde lhe parecia certo. Nunca mais parou e ainda hoje continua a sua peregrinação pelo mundo fora. Está vivo, feliz. e ainda ajuda outros mortos a voltar à vida.
Chegou a casa e escreveu uma carta onde contava da sua boa-nova, a sua ressurreição, à sua mulher-esposa, socialmente adequada e devidamente escolhida. Não que não gostasse dela... e de um certo modo até a amava. Mas nesse dia, de manhã, olhou para ela e viu-a morta enquanto tomava banho. Reconheceu depois, no cadáver sorridente e afável que lhe servia o pequeno-almoço, a sua própria morte. E foi nesse mesmo dia, ao chegar ao Escritório, que se resolveu ressuscitar. E decidiu dar-lhe a ela oportunidade de também o fazer. Mas resolveu que não continuaria morto se ela assim o decidisse permanecer. E assim foi, ela continuou morta e ele decidiu viver. Deixou tudo para trás, apenas levou alguma roupa e começou a caminhar para onde lhe parecia certo. Nunca mais parou e ainda hoje continua a sua peregrinação pelo mundo fora. Está vivo, feliz. e ainda ajuda outros mortos a voltar à vida.
Chamam-lhe o louco, o alienado, aquele que deitou tudo a perder. Fogem dele, a sua liberdade e paz de espírito causam-lhes incómodo. Ele apenas sorri e continua o seu caminho.
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