Uma crónica interessante sobre o mais abjecto político desde o 25 de Abril.
EDITORIAL
O sorriso das vacas
À luz do que foi a relação do Presidente da República com cada uma das regiões autónomas, é quase doloroso assistir ao cumprimento da obrigação de Cavaco Silva, que, em plena visita ao território liderado pelo seu arqui-inimigo Carlos César, tem de reagir ao que se está a passar na Madeira. César está manifestamente a gozar o prato, com laivos de sadismo político. Não se inibiu de mostrar como a visita presidencial lhe é, senão desagradável, pelo menos indiferente, e, muito pior, procurou co-responsabilizar o Presidente da República pelo "buraco" na Madeira, ao afirmar ontem que a "situação era conhecida pelo menos do ponto de vista da intuição" dos "principais responsáveis políticos". A intuição é uma coisa, a responsabilidade outra. No entanto, ao contrário do obtuso Estatuto dos Açores, a descoberta do buraco nas contas da Madeira não valeu agora sequer uma missa televisiva. Gerir a situação da Madeira nos Açores é de uma dificuldade tão grande que resta a Cavaco dizer que os "tempos que atravessamos são de dificuldades e devem ser tempos de coesão, não tempos de divisão ou de querelas estéreis". É a única reacção possível ao azar de uma visita presidencial feita ao lugar errado no momento mais azarado da saison política. Que mais pode fazer Cavaco senão "reparar no sorriso das vacas, que estavam satisfeitíssimas, olhando para o pasto"? Por estes dias sombrios, as vacas serão, das criaturas vivas, talvez as mais satisfeitas que há em território nacional. Além de César, o sádico, claro.
Pinóquio Passos Coelho, O Aldrabão Compulsivo
Por Fernanda Câncio, no DN
"Estas medidas põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução."
"Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa."
"Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias."
"Sabemos hoje que o Governo fez de conta. Disse que ia cortar e não cortou."
"Nas despesas correntes do Estado, há 10% a 15% de despesas que podem ser reduzidas."
"O pior que pode acontecer a Portugal neste momento é que todas as situações financeiras não venham para cima da mesa."
"Aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos."
"Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos."
"Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos."
"Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado."
"Já estamos fartos de um Governo que nunca sabe o que diz e nunca sabe o que assina em nome de Portugal."
"O Governo está-se a refugiar em desculpas para não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu no memorando."
"Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa."
"Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas."
"Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português."
"A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento."
"A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos."
"Não aceitaremos chantagens de estabilidade, não aceitamos o clima emocional de que quem não está caladinho não é patriota"
"O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento."
"Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate."
"Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?"
Conta de Twitter de Passos Coelho (@passoscoelho), iniciada a 6 de Março de 2010. Os tuites aqui transcritos foram publicados entre Março de 2010 e Junho de 2011 (Esta nota final foi rectificada às 19.30 de sexta-feira, 2 de Setembro)
I am Jack's indisposition with humanity
Um triste palhaço ganancioso, este Mário Nogueira
“São imposições da Troika.” (suspiro) parece desabafar agora, resignado, Mário Nogueira, este cordeirinho.
Se dúvidas ainda houvesse de que as lutas organizadas pela FENPROF no governo anterior eram mera guerrilha política contra o PS servindo-se do descontentamento dos professores com as novas exigências, estas palavras de Mário Nogueira ao Expresso de hoje (sem link, sorry) desfazem-nas completamente, sendo muito elucidativas.
“Cada um tem o seu estilo. Lurdes Rodrigues era duríssima, de difícil relação nas reuniões [já Mário Nog. era de uma afabilidade que comovia...]. Com Isabel Alçada não havia qualquer problema de relacionamento, mas percebia-se que era extremamente frágil do ponto de vista político [Ah, esta já estava a prazo]. Agora há uma coisa que temos a certeza, é que cada vez mais as ideias estão condicionadas às regras da troika [Jura!]. Eu não sei se este ministro acha bem fazer mega-agrupamentos, presumo até que não, mas o certo é que já anunciou que vai fazer mais. As políticas hoje são impostas por fora.”
Ai são? Que conformismo, que conformismo, senhores. Em que acreditava, em que acredita este homem afinal? Até me faz pena, porque suspeito que seja no regresso do PS ao poder para olear de novo as espingardas!
Como se conclui claramente, estes comunas adoram ter cá a troika. Não são mesmo umas crianças? Com gente desta, como podemos indignar-nos que venham aí uns alemães puxar-nos as orelhas e obrigar-nos a ajoelhar, ameaçando com a cana?
Uma última nota:
Depois de tanta azáfama, o que conseguiu o PCP com o seu sindicalista? Que os professores votassem maciçamente no PSD. Missão cumprida, portanto.
Via ASPIRINA B
A very good read.
Christopher Hitchens is always an interesting read. I find his writing entertaining and found him to be a pleasant individual. Recently he wrote of his own impeding death.
In the preface to my first collection of essays, Prepared for the Worst, in 1988, I annexed a thought of Nadine Gordimer's, to the effect that a serious person should try and write posthumously. By that I took her to mean that one should compose as if the usual constraints -- of fashion, commerce, self-censorship, public and perhaps especially intellectual opinion -- did not operate. Impossible perhaps to live up to, this admonition and aspiration did possess some muscle, as well as some warning of how it can decay. Then, about a year ago, I was informed by a doctor that I might have as little as another year to live. In consequence, some of my recent articles were written with the full consciousness that they may be my very last. Sobering in one way and exhilarating in another, this practice can obviously never become perfected. But it has given me a more vivid idea of what makes life worth living, and defending.
This inspired me to reflect upon my own mortality. I, as is Hitchens, am an unbeliever. I lack a belief in a deity of any kind and I have no reason to assume there is life after death. That baffles the believers.
A Estupidez é o Grande Mal do Mundo
Um dique contra a estupidez
07 Setembro 2011 | 11:33
João Pinto e Castro -
Taxar algo ou alguém de estúpido é tido como desagradável, um non sequitur que bloqueia o debate e desencadeia uma escalada de insultos. As boas maneiras instituem assim um pudor de nomear a estupidez de que ela se aproveita para andar por aí à solta.
A leitura do debate que, a propósito da utilidade de se construírem estradas, opõe n' "A Morgadinha dos Canaviais" o Sr. Joãozinho, o Brasileiro e o Pertunhas sugere-nos que é muito mais difícil desmontar um argumento estúpido do que enfrentar um inteligente; logo, a estupidez tenderá a crescer mais rapidamente do que a nossa capacidade para contê-la. Da primeira vez que me apercebi disso entrei em pânico. Depois, consolei-me pensando que não é preciso perder demasiado tempo a discutir argumentos estúpidos porque as pessoas são intuitivamente capazes de recusá-los. Mas serão mesmo?
O tema da estupidez tem sido insuficientemente estudado nas suas causas e consequências. Platão discorreu sabiamente sobre a Verdade, o Belo, o Bem ou a Razão, mas omitiu a investigação do Estúpido (os diálogos com Alcibíades, em que o tema é aflorado, são considerado apócrifos), falha que desde então a filosofia ainda não corrigiu.
Embora tenhamos uma variedade de palavras para designar o estúpido - tolo, palerma, idiota, imbecil, parvo, pateta, simplório, medíocre, básico - damos pouca atenção às nuances de significado que implicam. Por exemplo, palermice é estupidez alardeada como coisa esplendorosa, com consistência e orgulho; mediocridade é estupidez grave, majestosa, quase respeitável; já a idiotice implica uma obsessão, uma intenção estratégica, e, frequentemente, um método.
Como Sophia de Mello Breyner observou, a própria inteligência pode ser colocada ao serviço da estupidez. Pode-se, por isso, fazer dela um modo de vida. Errou pois Carlo Cipolla na formulação da sua Terceira Lei da Estupidez: a florescente indústria da estupidez comprova que um estúpido não é forçosamente alguém que prejudica os outros sem ganhar nada com isso.
É útil a distinção que Musil introduziu entre a estupidez honrada ou genuína e a desonesta ou superior. A estupidez honrada resulta da limitada capacidade intelectual de quem a produz, e não tem remédio. Pelo contrário, a estupidez superior comporta uma cegueira interessada e interesseira. Alardeia saber tudo sobre todas as coisas importantes da vida, quando de facto as ignora. Não há domínio em que não se infiltre, nem ideal, por muito nobre, de que não consiga aproveitar-se. Pode ocasionalmente envergar as vestes da verdade. É uma doença espiritual que opera com total desrespeito pelos demais, uma pretensão de superioridade destituída de qualquer fundamento no conhecimento efectivo daquilo de que se fala. É filha da soberba, um pecado capital hoje muito tolerado.
As grandes tragédias humanas não resultam da ignorância, da cobiça ou da malvadez, mas da pura e simples estupidez. Não porque a maioria das pessoas seja estúpida, mas porque em situações de complexidade extrema nos tornamos vulneráveis à estupidez. Há poucas coisas mais poderosas que a estupidez que está na moda. A difusão da estupidez encontra-se aliás tão facilitada pelos meios de comunicação contemporâneos que ela dá a volta ao mundo enquanto a lucidez acaba de calçar as botas.
Flaubert, um persistente estudioso da estupidez humana, concluíu ao cabo de anos de aturada investigação: "Estupidez, egoísmo e boa saúde são as três condições da felicidade; se bem que, faltando a estupidez, tudo estará perdido." Agrada-lhe esse projeto de vida?
Seria estúpido buscar uma solução simples, rápida e eficaz para a estupidez, mas todos podemos exercitar a nossa capacidade de resistir ao seu contágio.
Evite dar ouvidos a monomaníacos, gente de uma só causa e uma só ideia. Mas não desconfie menos daqueles que estão sempre prontos a discorrer a todo o momento sobre qualquer assunto, sobretudo se forem vivos de espírito. Duvide de afirmações taxativas, unilaterais, lapidares. Procure conhecer as opiniões contrárias, principalmente aquelas de que à partida discorda. Lembre-se de que, se toda gente concorda com algo, provavelmente tratar-se-á de um erro.
Faça de conta que o mundo existe fora das suas opiniões. Pratique a ironia em relação às suas certezas pessoais. Ensaie pensamentos desconfortáveis. Duvide. Esqueça. Aprenda.
O cepticismo, outrora luxo de filósofos, é agora necessidade que todo o cidadão precisa de cultivar, sob pena de a estupidez tomar conta do mundo.
Director-geral da Ology e docente universitário
jpcastro@ology.pt
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Uma opinião demolidora.
Foi sol de pouca dura
A entrevista de Vítor Gaspar à SIC - conduzida de forma brilhante por José Gomes Ferreira – marcou o inicio da queda deste Governo. Numa altura em que se exigem sacrifícios brutais aos portugueses, é necessário que o Ministro das Finanças apresente um discurso claro, esclarecido e simultaneamente encorajador. Vítor Gaspar transmite tudo menos coragem e esperança. As suas intervenções são monótonas, enfadonhas e pouco claras para a maioria dos Portugueses – pelo menos para aqueles que não viveram nos últimos anos "encafuados" nos gabinetes de estudos económicos do BdP e CE. Chegam mesmo a assemelhar-se a sessões baratas de hipnotismo para ajudar a deixar de fumar... Quando VG termina uma frase já toda a gente se esqueceu do que tinha dito no inicio da mesma – um pesadelo para os jornalistas que acompanham as conferencias de imprensa.
A verdadeira vocação deste ministro ficou bem patente na sua intervenção na Universidade de Verão do PSD: ensinar.
Mas como explicar que um prestigiado académico que publicou dezenas de artigos, reflexões, estudos etc... sobre como cortar na despesa publica e equilibrar o défice, ao chegar ao governo apenas consiga aplicar a velha formula do aumento de impostos? A resposta é simples: o papel e os quadros de ardósia aceitam tudo o que neles se escreve.
O que é feito das anunciadas reduções na despesa? O próprio Documento de Estratégia Orçamental (não passa de um ataque à anterior governação socialista) não concretiza nada em termos de cortes às “gorduras” do Estado. Este executivo revela não ter nenhum interesse em enfrentar os lobbies, os grupos de pressão, os caciques das distritais, os boys instalados nas suas cadeiras douradas... Por outro lado, não hesita em destruir – ao invés de restruturar ou racionalizar – o estado social, uma das grandes conquistas europeias!
A subserviência e bajulação de PPC à Sra.. Merkel, alinhando-se contra os Eurobonds – única hipótese plausível para evitar a desintegração do Euro – é ridícula e seria mesmo motivo de chacota não fosse estar em risco a sobrevivência de Portugal e da Zona Euro.
Este Governo tem os dias contados! Bastaram as criticas de Ferreira Leite, Marques Mendes e João Almeida para instalar o caos na coligação. Isto sem sequer haver uma oposição credível por parte do PS! Imagine-se quando a contestação social sair à rua. Quando os poderosos sindicatos arregimentados pelo PCP paralisarem o país de Norte a Sul.
Veremos se a minha premonição se confirma! Eu não tenho duvidas! Este Governo está a prazo!
P.S: Como não tenho Facebook não posso seguir os comentários e opiniões do nosso estimado PR.
Deixo aqui isto, no regresso das férias
Bem visto...
Estar pessimista, sentir ataques de ansiedade e deixar-se levar pelo pânico por causa das crises no sistema financeiro deste ou daquele país, ou por causa da ameaça de recessão internacional, é um luxo só acessível aos ricos.
(visto @ Aspirina B)
A política perversa da crise financeira (Jornal de Negócios)

LuigiZingales -
Ao tentar entender o padrão e o momento das intervenções governamentais durante a crise financeira, devemos talvez concluir que, parafraseando o filósofo francês Blaise Pascal, os políticos têm incentivos que a economia não consegue entender.
Do ponto de vista económico, o problema é simples. Quando a solvência soberana se deteriora significativamente, a sua sobrevivência torna-se dependente das expectativas do mercado. Se as expectativas indicarem que a Itália é solvente, os mercados vão emprestar a taxas de juro mais baixas. A Itália vai ser capaz de cumprir as obrigações actuais e muito provavelmente, também, as obrigações futuras. Mas se muitas pessoas começarem a duvidar da solvência do país e a exigir um prémio mais elevado, o défice orçamental do país vai piorar e é provável que a Itália entre em incumprimento.
Se um devedor como a Itália acaba protegido pelas boas expectativas ou cai num pesadelo depende, muitas vezes, de algumas "notícias coordenadas". Se todos esperarem que um corte de "rating" torne a dívida italiana insustentável, a Itália entrará, de facto, em incumprimento após o corte, independentemente dos efeitos deste corte na economia real. Esta é a maldição do que os economistas chamam de "equilíbrio múltiplo": quando espero que os outros comecem a fugir, é óptimo para mim começar também a fugir; mas se todos mantiverem a calma, não tenho incentivos para fazer algo diferente da maioria.
Tendo em conta esta dinâmica económica, parece haver duas receitas políticas óbvias. Em primeiro lugar, é muito perigoso para qualquer país aproximar-se de um ponto em que a insolvência pode facilmente ser desencadeada. Apesar de ninguém conseguir antecipar este ponto, é óbvio quando começam a soar os primeiros sinais de alarme. Dado o enorme custo de um incumprimento, qualquer governo deve ficar afastado da zona de perigo.
A segunda receita assume que se, por alguma razão, algum país acabar por entrar na zona de perigo, só há duas respostas que fazem sentido económico. Ou as autoridades reconhecem imediatamente a inevitabilidade de um incumprimento e não gastam recursos para o evitar, ou acreditam que um incumprimento pode ser evitado e disponibilizam todos os recursos à sua disposição o mais depressa possível. Tal como em muitas guerras, um agravamento numa crise financeira leva muitas vezes ao pior resultado possível: uma derrota com elevados prejuízos.
Essa é, infelizmente, a história da intervenção das autoridades norte-americanas durante a crise financeira de 2008. Após o colapso do Bear Stearns ficou claro que iriam haver mais problemas. Ainda assim, o governo dos Estados Unidos não fez nada. Em Julho de 2008, quando a Fannie Mae e a Freddie Mac foram consideradas insolventes, o Secretário do Tesouro prometeu, então, resolver o problema com uma bazuca mas acabou por resolver o problema apenas com uma bala. Foi só após o colapso do Lehman Brothers que Paulson foi ao Congresso procurar a aprovação de um pacote de 700 mil milhões de dólares para estabilizar o sistema financeiro. Mesmo isso acabou por insuficiente.
A mesma farsa parece estar a ter lugar na Europa. Se as autoridades europeias achavam que a Grécia precisava de ser salva, uma intervenção imediata poderia ter minimizado os recursos necessários. Se pensavam que a Grécia devia entrar em incumprimento, uma decisão nesse sentido tinha também minimizado os custos. Agora estamos no segundo pacote de ajuda e parece não haver fim à vista. Entretanto, a Itália está a afundar-se.
Podemos argumentar que os políticos agiram desta maneira porque não entenderam a natureza económica desta crise. Não concordo. Penso que o que os levou a agir desta maneira não foi falta de conhecimento mas sim incentivos perversos.
Primeiro que tudo, mesmo para alguém com os melhores incentivos, é difícil escolher um custo menor que seja pago já em vez de um custo maior que poderá diminuir no futuro. Para um político eleito que já não estará em funções (ou mesmo vivo) quando os custos mais elevados se materializarem a escolha é óbvia. É por isso que os países acumulam dívidas que os colocam na zona de perigo.
Em segundo, não há nenhuma compensação política de enfrentar uma guerra preventiva. Pelo contrário, agir depois dos problemas terem rebentado gera um enorme capital político. Se Franklin Roosevelt tivesse conseguido evitar o ataque a Pearl Harbor com uma intervenção preventiva contra o Japão, ainda estaríamos a discutir se a guerra com o Japão era evitável. Roosevelt esperou e só agiu após a catástrofe e tem sido considerado um salvador. Para agir os políticos precisam de consensos. Mas estes normalmente só aparecem depois dos custos de não fazer nada serem demasiado visíveis. Nesta altura, é muitas vezes demasiado tarde para evitar o pior resultado.
Estes incentivos estão presentes em todas as democracias. Não podem ser eliminados. Mas podem ser atenuados. O Pacto de Estabilidade e Crescimento da Europa foi um esforço nesse sentido - ao criar incentivos para que os países da Zona Euro se mantivessem afastados da zona de perigo. Infelizmente, o pacto falhou miseravelmente. Mas se queremos que o euro sobreviva - e que outros países evitem crises de dívida soberana - precisamos de regras à prova de políticos.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Luísa Marques



