Uma crónica interessante sobre o mais abjecto político desde o 25 de Abril.

No jornal i, que, não obstante esta crónica, não recomendo a ninguém.
EDITORIAL

O sorriso das vacas

por Ana Sá Lopes, Publicado em 22 de Setembro de 2011

Cavaco foi obrigado a reagir ao caso da Madeira nos Açores, o pior lugar de todos
Cavaco Silva desistiu de se incomodar com Jardim, como se fosse coisa que não valesse a pena, e liderou nos últimos anos, enquanto suprema figura do Estado, o temor reverencial com que os órgãos de soberania se renderam desde sempre à Madeira. Desistiu: se dissesse qualquer coisinha passaria, no mínimo, de imediato a "Sr. Silva" e não esteve para se sujeitar ao terrorismo verbal de Jardim. Cavaco Silva não viu mas nem quis ver. Os problemas de endividamento eram únicos e direccionados: os contraídos pelo odiado governo Sócrates. Cavaco Silva "alertou" - como gosta de dizer - para o supremo endividamento do Estado nos últimos anos. Não "alertou" para o supremo endividamento da Região Autónoma da Madeira nas últimas décadas. Criou um cisma institucional por causa de um obscuro Estatuto Administrativo dos Açores, uma embrulhada de difícil entendimento para o cidadão comum. Mas tentou passar despercebido aos olhos do Governo Regional dos Açores, por muito que o Tribunal de Contas lá fosse fazendo as suas denúncias periódicas.

À luz do que foi a relação do Presidente da República com cada uma das regiões autónomas, é quase doloroso assistir ao cumprimento da obrigação de Cavaco Silva, que, em plena visita ao território liderado pelo seu arqui-inimigo Carlos César, tem de reagir ao que se está a passar na Madeira. César está manifestamente a gozar o prato, com laivos de sadismo político. Não se inibiu de mostrar como a visita presidencial lhe é, senão desagradável, pelo menos indiferente, e, muito pior, procurou co-responsabilizar o Presidente da República pelo "buraco" na Madeira, ao afirmar ontem que a "situação era conhecida pelo menos do ponto de vista da intuição" dos "principais responsáveis políticos". A intuição é uma coisa, a responsabilidade outra. No entanto, ao contrário do obtuso Estatuto dos Açores, a descoberta do buraco nas contas da Madeira não valeu agora sequer uma missa televisiva. Gerir a situação da Madeira nos Açores é de uma dificuldade tão grande que resta a Cavaco dizer que os "tempos que atravessamos são de dificuldades e devem ser tempos de coesão, não tempos de divisão ou de querelas estéreis". É a única reacção possível ao azar de uma visita presidencial feita ao lugar errado no momento mais azarado da saison política. Que mais pode fazer Cavaco senão "reparar no sorriso das vacas, que estavam satisfeitíssimas, olhando para o pasto"? Por estes dias sombrios, as vacas serão, das criaturas vivas, talvez as mais satisfeitas que há em território nacional. Além de César, o sádico, claro.

2 comentários:

Porfirio Silva disse...

Björn, atenção ao link lá acima: está marado.

Björn Pål disse...

Obrigado pela chamada de antenção.
Penso que está corigido