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Ora vejam (especialmente a partir do 2º parágrafo):

Duas horas e meia de pernas para o ar

Matosinhos Camião capota no nó de Sendim. Condutor escapa por milagre

00h56m

JOSÉ MIGUEL GASPAR
Duplo milagre: o condutor esteve duas horas e meia encarcerado na cabina do camião que virou, mas saiu quase incólume; tombou na encosta, mas por uma nesga caía em cima dos carros da A4. Veja o vídeo.
Como ficou, todo estampado de costas, o atrelado tombado de lado na encosta, carga espalhada e os 12 rodados indignamente virados ao ar, o grande Scania R440, um muito possante semi-reboque, vermelho vivo, novo, parecia um Transformer que correu horrivelmente mal. Bastava ver-lhe a cara que é a sua cabina - pareceu ter levado um soco do céu: testa de vidro partida, grelha metida pelas fuças adentro, todo amarrotado como papel, um sem-número de fios e mecânicas vísceras, a escorrer, à mostra de todos. Metia dó, como um escaravelho que capota e não se pode levantar. Mas, mais do que isso, metia medo.
Lá dentro estava Manuel Eirado Azevedo, condutor profissional, 50 anos, natural de Fão, Esposende, vítima e vilão e único acidentado do sinistro. O seu sanguíneo R440, ao serviço da Transfradelos, operadora de carga da Póvoa, arcado com 30 toneladas de estilha (aparas de madeira para celulose), saíra do Porto de Leixões quando se despistou no alto do nó de Sendim (acesso à A4 na ligação para a A28, direcção Porto), caindo encosta abaixo.
Acreditar em milagres a dobrar
Ninguém o diz oficialmente, mas entre o INEM, a Polícia e os bombeiros que ali formigavam, do Porto e de Leixões, era comentário comum que houve um duplo milagre. Primeiro: Manuel Eirado Azevedo ficou encarcerado na cabina desfeita do camião, ele preso sentado e virado ao contrário, e saiu incólume (ou quase: um dedo esfacelado, escoriações na face e numa perna; internou-se no S. João, está estável, só chocado e, claro, muito stressado). Segundo milagre: bastava que o despiste tivesse ocorrido dois segundos antes, 20 metros antes e aquele toneloso camião ter-se-ia despenhado monstruosamente na A4.
Foi isso que pensou num imenso segundo António Parada, presidente da Junta de Matosinhos, que seguia pacatamente em baixo, na A4, quando aquilo se levantou por cima de si. "Vi-o a virar-se todo, como se ele estivesse vivo, até ficar de rodas para o ar. Pareceu-me que durou uma eternidade. Foi um pavor - se ele caísse, caía mesmo em cima de mim!", disse o autarca ao JN, a voz ainda aluída. "Foi um susto como não me lembro, vi a estilha toda pelo ar, aquelas rodas pretas a fumegar, as rodas a rodar sozinhas. Parei logo, eu e os outros carros todos, e chamei o 112".
Na síntese oficial do acidente, o comandante adjunto Carvalho, solícito e transpirado, diz que aquilo foi complicado, mas que o condutor teve companhia desde o primeiro momento, minutos depois do alerta (17.15 horas), que manteve a consciência e que foi logo medicado com morfina. O comandante admite também que o acidentado esteve naquele cárcere duas horas e meia (libertou--se às 19.40 horas) e que a grua desencarceradora de pesados demorou quase duas horas a chegar

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